O grande dramaturgo e poeta inglês do século XVII, William Shakespeare ficou célebre através de obras como, por exemplo, Hamlet, Otelo, Rei Lear, Romeu e Julieta e MacBeth, nas quais constam algumas frases que ficaram também famosas, entre elas a do título desta matéria “Ser ou não ser, eis a questão!”.
Como A. Damásio comenta na sua última obra “O livro da consciência”, o impulso básico do homem é para a sobrevivência. Observado de outro ponto de vista e, de uma forma simplista, este impulso poderia corresponder a um impulso para ser! A resposta à pergunta formulada por Shakespeare seria Ser, sem quaisquer dúvidas!
Não existiria um não ser, mas apenas uma “inconsciência de ser” da qual só o próprio Ser se pode aperceber. Poderia afirmar-se que o ser se encontra adormecido, anestesiado talvez devido à sua insustentável leveza, como dizia Kundera. Tal como uma criança com sua ingenuidade acredita que o papai Noel vai chegar numa rena e entrar pela chaminé assim o Ser sai do seu estado de presença e entra nas ilusões e nas armadilhas da mente e do espaço tempo.
Filosoficamente ambos os aspectos, ser e não ser, também podem ser vistos como dois lados da mesma moeda. Um não pode existir sem o outro. Algo só é quando comparado com algo que não é. Algo é considerado positivo quando comparado com algo considerado negativo, poderemos dizer que um não existe sem o outro.
Talvez nós existamos e não existamos em cada segundo das nossas vidas, embora ainda não o tenhamos comprovado, tal como uma lâmpada acende e apaga 60 vezes por segundo, embora pareça estar sempre acesa (quando ligamos o interruptor, obviamente). Ou seja, a lâmpada em cada segundo está tanto tempo acesa como apagada, mas temos a ilusão “bem real” de que está sempre acesa. Tal como a vida que é constituída por dois aspectos, vida e morte, também o ser pode ser constituído por ser e não ser!
Por outro lado, de uma forma muito Lapalissiana, o Ser pode ser aquilo que resta após se retirar tudo aquilo que não é (não é, por exemplo, personalidade, identificação, projeção, etc.). Saindo dessa ilusão vai restar aquilo que sempre lá esteve e “isso” pode ser o Ser!
Todo o ser é potencialidade pura. Neste estado o ser não é perfeito nem imperfeito, bom nem é mau. Ao mesmo tempo em que tem a potencialidade de ser “bom” também tem a potencialidade de ser “mau”. Ao sair da potencialidade pura, por decisão, entra no universo da dualidade. Como numa novela, alguns artistas decidem fazer o papel do bom, outros fazem melhor o do vilão.
Depois, a maioria esquece-se de que está apenas a representar um papel, identificando-se com um dos aspectos da dualidade.
Jung dizia que, preferia ser inteiro a ser bom. O que quereria ele dizer com isso? Possivelmente o ser inteiro significaria ser completo, ser consciente de toda a potencialidade. O que existe é apenas maior ou menor consciência acerca dessa plenitude, dessa completude ou, por outras palavras dessa dualidade dentro da unidade.
Lao Tsé, há milhares de anos dizia que, pelo não ser se alcançava o ser. Não sendo um pensamento, não sendo uma emoção, etc., desidentificando-me desse pensamento e dessa emoção posso chegar ao que sou. Sou aquele que observa e se apercebe de tudo isso permitindo-me sentir e pensar, mas sem me identificar com ambos.
Ao longo de 16 anos de trabalho com pessoas com os mais diversos tipos de dificuldades, utilizando a Psicoterapia Integral, constatei que, o Ser está lá e sempre esteve por detrás de todas as aparências.
Para o Ser se aperceber que já é, e não necessita fazer nada para ser, apenas, e parece contraditório, precisa se desligar (desidentificar) do que é ilusório e que poderia ser dito constituir o não ser. Através do parar de pensar e do desenvolvimento do observador interior poderá sair da ilusão e aperceber-se que é!
Por exemplo, posso queixar-me de que minha avó me irritou através de algo que me disse. Essa é uma ilusão. Quem se irritou fui eu e não minha avó que me irritou! Ela proferiu determinadas palavras e eu me irritei com elas, como poderia não ter ficado irritado.
Esta irritação minha pode resultar, de certa maneira, de um reflexo condicionado (aprendemos, muitas vezes de forma subliminar que, quando se dizem certas palavras com determinados modos, nos irritamos), de algo mal resolvido na relação com a minha avó ou ainda de outros motivos.
“Apenas” necessito me aperceber desse detalhe que corresponde a uma mudança total do foco perceptivo do exterior (do outro, de dar o poder ao outro), para dentro de mim (meu interior), assumindo a responsabilidade total pela minha vida.
Resumindo, num determinado ponto de vista, sempre existimos e somos, independentemente de termos consciência disso ou não. Noutro ponto de vista, esse Ser que sempre existe e existiu pode ser caracterizado ainda – como se de uma partícula vibrante se tratasse – como existindo e não existindo ao mesmo tempo! Assim nós poderemos ser e não ser ao mesmo tempo.
A que se estaria a referir Cristo quando disse “eu venci o mundo”? Possivelmente ao fato de ter saído da ilusão, do “inconsciente”, da identificação com a personalidade, etc. de se ter apercebido dele mesmo como Ser …!
Fonte: Fernando Baptista – Terapeuta
www.fernandobaptista.com
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